Episódios De Alta Frequência Atrial E Sua Associação Com Eventos Isquêmicos Cerebrais Em Pacientes Chagásicos

Abstract

Introdução: Dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEIs), permitem o monitoramento contínuo do ritmo atrial, e através dessa tecnologia, pacientes com episódios de alta frequência atrial (EAFAs), podem ser identificados. Um crescente número de dados clínicos suporta a hipótese de que os EAFAs ≥ 6 minutos estão associados a um risco elevado de eventos isquêmicos cerebrais e de desenvolvimento de fibrilação atrial (FA) clínica, porém o nível de limiar dos EAFAs que justifica a anticoagulação oral não está claro. Pacientes chagásicos apresentam maior risco de desenvolvimento de arritmias atriais e suas complicações tromboembólicas. Nesta população, até o momento não há, na literatura, dados relacionados à investigação da presença de EAFAs ≥ 6 minutos e sua incidência/prevalência, bem como sua associação com eventos isquêmicos cerebrais, pois não foram desenvolvidas pesquisas voltadas a avaliação destes pacientes. Objetivos: Investigar se existe associação entre a presença de EAFAs ≥ 6 minutos e eventos isquêmicos cerebrais através de tomografia computadorizada (TC) de crânio. Métodos: Estudo de coorte, onde foram incluídos pacientes chagásicos, portadores de DCEIs, acompanhados no Ambulatório de arritmias de um Hospital Universitário, na cidade de Salvador-Bahia-Brasil, entre maio de 2016 e junho de 2017. Pacientes com diagnóstico de flutter atrial / fibrilação atrial permanente, com DCEI unicameral e em uso de anticoagulação oral foram excluídos. Para análise, foram considerados EAFAs com frequência atrial ≥ 190 batimentos por minuto (bpm) e duração ≥ 6 minutos (min) detectados através dos DCEIs e eventos isquêmicos cerebrais identificados através de tomografia computadorizada (TC) de crânio. Resultados: Os 67 participantes da pesquisa (67,2% do sexo feminino, com idade média de 63,6 ± 9,2 anos) foram acompanhados por 98 ± 28,8 dias. Os EAFAs ≥ 6 min foram identificados em 11,9% da população. A TC de crânio evidenciou presença de eventos isquêmicos cerebrais silenciosos em 16,4% dos pacientes, sendo que destes, 63,6% havia apresentado os EAFAs ≥ 6 min na análise do dispositivo cardíaco. A presença de tais episódios atriais foi associada a ocorrência de eventos isquêmicos cerebrais [OR 96,2 (9,4-987,4; p <0,001)]. A presença de EAFAs e a idade avançada foram considerados preditores independentes de eventos isquêmicos cerebrais nesta população. Conclusão: EAFAs detectados por DCEIs estão associados a presença de eventos isquêmicos cerebrais silenciosos em pacientes chagásicos, sugerindo um risco maior do que aquele encontrado nos estudos desenvolvidos em outras populações já estudadas.