https://repositorio.ufba.br/handle/ri/40665
Tipo: | Artigo de Periódico |
Título: | Dia de festa no mar: maritimidade, hierofanias, heortologia urbana na Salvador oitocentista |
Autor(es): | Paz, Daniel Juracy Mellado |
Resumo: | A Salvador oitocentista era profundamente dependente do mar: dele e das suas costas extraiu material de construção, riquezas e sustento diário, tendo a Baía de Todos os Santos como seu mare nostrum. Um aspecto dessa maritimidade particular eram as crenças e celebrações religiosas. Os trabalhadores do mar eram os devotos mais fiéis, mas era um interesse compartilhado pela sociedade indefesa diante das intempéries em terra e principalmente nas inevitáveis viagens por mar. Isso explicava a irrupção de hierofanias à beira-mar, festejadas dentro de um calendário anual, orientando a economia mundana e espiritual daquela sociedade. Nas possibilidades abertas de uma Heortologia Urbana, dessa relação entre Festas e Cidade, estudamos as articulações entre partes da cidade, seus arredores e lugares mais distantes, por meio de diversos tipos de deslocamento: procissões, romarias, corridas e entregas de presentes. Primeiro, identificamos os poderes extraterrenos que se vinculavam ao mar cultuados em Salvador no séc. XIX, no culto católico e o da Mãe d´Água, que fundia crenças africanas com uma matriz ameríndia prévia, além das ambivalentes relações desta com denominações de Nossa Senhora, manifestando-se em fontes, espelhos d´água, e locas e grutas à beira-mar. O passo seguinte foi rastrear as festas específicas. Algumas no Porto da cidade, como a Festa das Escadas e a do Bom Jesus dos Navegantes. Outras eram distantes da cidade, implicando em uma vistosa romaria náutica pela baía, sendo as mais importantes a de N. Sra. da Purificação e, depois, a de N. Sra. das Candeias. A solidariedade entre as localidades de pescadores se expressava nas festas, nos percursos das procissões e seus rituais, que iam de um santuário a outro, por simples que fossem. Na Península de Itapagipe, o antigo culto a santos dedicados ao mar encontrou um público maior, levando ao chamado “passar as festas”, precursor e motor do veraneio moderno, em torno do N. Sr. do Bonfim, com porte regional na Bahia. E, de maneira mais discreta na contracosta da península, a Entrega de Presentes à Mãe d´Água na Ribeira, o grande festejo na época dessa entidade, que nas primeiras décadas do séc. XX deslocou-se para Montserrate, perto dali. Nas localidades do litoral atlântico o retiro durante o verão, em algo movido por questões de saúde, levou à visibilidade daquelas festas antes marginais e à sua adoção pelos veranistas, com aporte de recursos e aumento de público. Ocorreu da Barra até a longínqua Itapuã, em especial no Rio Vermelho, que se consagrou como principal sítio de veraneio no final do séc. XIX, e como encerramento do ciclo festivo de verão, prenúncio do Carnaval. Assim os festejos explicam uma aproximação mais hierofânica ao mar, componente central para os hábitos e valores da cidade, e que chegaram mesmo a orientar sua urbanização, privilegiando os arrabaldes litorâneos antes da valorização moderna da beira-mar. |
Abstract: | The nineteenth-century Salvador was deeply dependent on the sea: he extracted construction material, wealth and daily sustenance from it and from its coast, with the Bay of All Saints as his mare nostrum. One aspect of this particular maritimity was religious beliefs and celebrations. Sea workers were the most loyal believers, but it was a shared interest by defenseless society in the face of weather on land and especially in the inevitable voyages by sea. This explained the appearances of hierophanies at the seashore, celebrated within an annual calendar, guiding the worldly and spiritual economy of that society. In the open possibilities of an Urban Heortology, the study of the relations between Feasts and Cities, we research the articulations between parts of the city, its surroundings and more distant places, through different types of displacement: processions, pilgrimages, races and offertories. First, we identified the extraterrestrial powers that were linked to the sea worshiped in Salvador in the XIXth century, in the Catholic cult and that of the Mother of Water (Mãe d´Água), which merged African beliefs with a previous Amerindian matrix, in addition to its ambivalent relationships with denominations of Our Lady, manifesting in fountains, lakes and and caves at seashore. The next step was to track the specific parties. Some in the Harbor of the town, like the Feast of Stairs (Festa das Escadas) and the feast to Bom Jesus dos Navegantes. Others were distant from the city, implying an impressive nautical pilgrimage across the bay, the most important being the celebration to Our Lady of Purification (Nossa Senhora da Purificação) and, later, that of Our Lady of Lamps (Nossa Senhora das Candeias). The solidarity between the fishermen’s localities was expressed at the festivals, during the processions and their rituals, which went from one sanctuary to another, however simple they were. In the Itapagipe Peninsula, the ancient cult of saints dedicated to the sea found a larger audience, leading to the so-called “passing the feasts”, a precursor and propellent of modern summer vacations, around N. Sr. do Bonfim, with regional scale in Bahia. And, more discreetly on the peninsula’s coast, the Offertory to the Mother of Water in Ribeira, the great celebration of this deity at the time, than in the first decades of the XXth century went to Montserrat, nearby. In the locations of the Atlantic coast, the retreat during the summer, in something moved by health issues, led to the visibility of those parties that were previously marginal and their adoption by vacationers, with the contribution of resources and an increase in the public. It occurred from Barra to the distant village of Itapuã, especially in Rio Vermelho, which became the main summer resort at the end of the XIXth century and as the end of the summer festive cycle, harbinger of Carnival. In this way, the festivities explain a more hierophanic approach to the sea, a central component for the habits and values of the city, which have even guided its urbanization, favoring coastal areas before the modern valorization of the seaside. |
Palavras-chave: | Antropologia da religião Festas religiosas - Salvador (BA) - Séc. XIX Salvador (BA) - História - Séc. XIX Sociologia urbana - Salvador (BA) - Séc. XIX Todos os Santos, Baía de (BA) - Navegação - Séc. XIX |
CNPq: | CNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS::ARQUITETURA E URBANISMO |
Idioma: | por |
País: | Brasil |
Editora / Evento / Instituição: | Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo |
Sigla da Instituição: | ANPARQ |
Citação: | PAZ, Daniel Juracy Mellado. Dia de festa no mar: maritimidade, hierofanias, heortologia urbana na Salvador oitocentista. Thésis, Rio de Janeiro, v. 5, n. 9, p. 9-70, nov. 2020. |
Tipo de Acesso: | Acesso Aberto |
Identificador DOI: | 10.51924/revthesis.2020.v5.223 |
URI: | https://repositorio.ufba.br/handle/ri/40665 |
Data do documento: | Nov-2020 |
Aparece nas coleções: | Artigo Publicado em Periódico (Faculdade de Arquitetura) |
Arquivo | Descrição | Tamanho | Formato | |
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